sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Test About the End of the World

Acordei, meio zonzo como sempre, mas com uma idéia firme na cabeça:

- Hoje eu vou matar alguém!

Não sei se foi algum sonho, ou algo que me veio do subconsciente, mas esta idéia estava tão concreta em minha mente que parecia não haver razão para viver se não a executasse. E logo. Teria que ser hoje, sem falta.

Poderia ser qualquer coisa, qualquer um. Homem, mulher, criança, animal doméstico, inseto, uma ave. Eu precisava, eu tinha que saborear a sensação de tirar a vida de algo. Era como um desejo divino, vindo enquanto eu dormia. Servir à Tânatos, o Deus da Morte, quem sabe. Ou à qualquer outro Deus, que queira extravasar sua raiva e precisa colocar a culpa em alguém.
Desse modo, segui para a cozinha. O primeiro objetivo era tomar café. Café é um modo de dizer, pois não gosto de cafeína; poderia ser um chocolate quente, cairia bem. O segundo objetivo era começar a observar quem seria o meu alvo. Poderia ser qualquer um SIM, mas caso eu escolhesse o ser errado, poderia simplesmente me arrepender e isso acarretaria num peso moral muito maior do que poderia suportar. Eu sabia que coisa boa não viria depois que eu matasse alguém, então eu teria apenas uma chance para realizar tal ato, e teria que ser o melhor alvo, a melhor escolha, a única escolha.
Logo que cheguei à cozinha, mamãe estava postando a mesa com deliciosos biscoitos e uma jarra de suco de laranja.
Ok, pode soar sombrio ou talvez frio demais, mas ali eu observei uma possível vítima. "Por que não?", pensei. Nota-se que ela ainda sofre daquela depressão depois que papai morreu. Volta e meia começa a chorar, gritando que sua vida não a merece, que não há nada mais para viver. Eu poderia muito bem livrá-la desse sofrimento, que para mim também é um, já que não é nada confortável vê-la desse jeito e não poder fazer muita coisa para ajudar.
Claro que esse pensamento já se foi, pois por mais que eu pense, nunca conseguiria levantar um dedo em sua direção. Mãe é mãe, é contra a leia da natureza, não tem como.
Logo tirei isso da cabeça e fui a procura de um novo indivíduo.
E nessa procura, saí de casa e fui para rua.
Era sábado, então não havia colégio. Uma pena, pois eu teria achado minha vítima sem problemas. Quantas pessoas eu nem conhecia e nem fariam a diferença vivas ou mortas? Poderia ser alguma menina chata e patricinha, ou algum guri meio burrinho ou algum valentão que só arranja encrenca, e isso seria um alívio para o mundo. Quem imagina como vai crescer um cara que desde pequeno quer mostrar para o mundo que ninguém é melhor do que ele? Posso estar parecendo o Raito¹. Pode ser isso a razão dessa vontade estranha, vindo das profundezas da minha mente, mas isso não interessa mais. Já passou do ponto da vontade, porque agora se tornou uma obsessão.
Como não sabia onde cada colega morava, decidi andar pela rua mesmo, buscando pessoas, animais, ou qualquer outra coisa que respirasse. Plantas não valeriam a pena. Por mais que já esteja provado que estão vivas, não tem como saber com exatidão quando morrem. Elas não possuem o último olhar do sopro de vida, então não tem graça.
O primeiro que vi andando tranquilamente pelo acostamento era um senhor de idade. Nome: Alberto. Idade: acho que beirava os 80. Morava sozinho depois que sua esposa morreu ano passado. Não me lembro da causa, mas deve ter sido câncer. É sempre câncer.
Já desisti da idéia de imediato. Que graça tem matar um velho de não pode se defender. Posso estar sendo um sádico, mas tenho honra (e um pouco de dó também, confesso).
Nessa hora eu já estava começando a ficar irritado. Havia mulheres com suas crianças, homens engravatados, com rostos cinzas de stress indo trabalhar, carros e mais carros, e nada que envocasse em mim a paixão de querer fazer o que precisava fazer.
Ok. Chego aqui a mais uma contradição. Que diabos eu estou querendo fazer? Por que diabos² eu preciso matar alguém? De onde veio essa idéia ridícula? Quem sou eu para querer/poder fazer algo desse gênero? Não cabe a mim o poder de decidir a vida de alguém, por mais que ela mereça ou não tenha significado para minha vida. Eu não posso fazer isso. É, não vou fazer. E é melhor eu ir para casa antes que me arrependa.
Lá estava eu novamente em casa, no meu quarto, deitado em minha cama. De olhos abertos fitando o teto, fiquei pensando nas razões de eu ter acordado com tal desejo. Não havia nenhuma razão aparente, nenhum trauma recente e nem raiva.
Isso me perturbou por um bom tempo, na verdade ficou batendo na minha cabeça por quase 40 minutos, quando decidi sentar na cadeira giratória para poder escrever um pouco, coisa que sempre faço diariamente para aliviar meus pensamentos.
O incrível disso tudo é que as coisas na minha cabeça sempre vem em questão de segundos, ainda mais quando me sento para escrever. É botar o lapis na mão que já começo a rabiscar qualquer coisa que seja. Mas hoje foi diferente. Acredito que devo ter ficado uns 35 ou 45 minutos esperando algo vir, e nada veio. Simplesmente nada.
Isso foi tão frustrante, tão aterrorizante, que me provocou uma raiva, um ódio sem tamanho, que o lápis que estava em minhas mãos se partiu cirurgicamente em dois, bem no meio.
É claro que eu me assustei. Eu não imaginei que aquilo que sentia poderia ser transferido para minhas mãos daquele modo.
De imediato eu me dei conta do poder que tinha. Eu poderia matar qualquer um que eu quisesse, não importando onde o ser estivesse, como se vestisse, e nem mesmo se ele algum dia existiu. Eu tinha o poder de criar. Eu tinha o poder de escrever, e isso era um poder ilimitado e sem dimensões.
E enfim lá estava eu, realizado com tal descoberta e já saboreando novamente aquela vontade louca de cometer um assassinato, quando me dei conta e entendi tudo claramente daquele momento em diante:

- Ops! Quebrei o lápis.

- Estou morto.

3 comentários:

Fernando Bach disse...

Tá legal e tal.
Faz sentido.
Mas o desfecho deixou a desejar na minha opinião, desconsiderando o fato dele ser original.

'De. disse...

Ahahah

Fox! Como sempre surpriende.
O que eu adoro em passar por aqui é que você consegue ter um tom de ironia, de comédia. Isso é legal.

Acabei de ver seu comentário do dia 09, tava numa correria aqui, com vest em Minas e tudo. Fiquei feliz de você ter passado por lá. To precisando atualizar, essa semana sai alguma coisa. (Assim espero).

Tava com saudades de passar por aqui também. Por falar em saudade, puta saudade de todo mundo. (:

Beijo. E, Ah é, feliz ano novo :P

Joelma Falcoski disse...

Tuh me da medo as vezes!hahaha