segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Solitude

Ela olhava para o lado e só via o infinito atraente do mar. Ecoando no sereno frio e sombrio, apenas o som abafado de ondas, degladiando-se sem piedade contra as rochas ali permanentes, imóveis à milênios como se fizessem parte daquele cenário somente logo depois que ela havia chegado à aquele local.
Eram 7:27 da noite de uma Quarta-Feira. Estava pensativa, sentada em um pedaço de pedra suja de terra. Mas ela não se importava, estava apenas olhando para o horizonte, esperando por algo depois do Pôr-do-Sol.
Esperava que algo a fizesse sorrir, que a fizesse esquecer de todas as coisas que a ocorreram aquele dia. Fazê-la esquecer, que com os olhos cheios de lágrimas, pegou o carro de sua mãe num desespero insensato, disparando-se para lugar qualquer, sem querer olhar para trás, sem querer relembrar os últimos minutos, sem querer ter forças para continuar respirando.
Seu nome era Judy. Nome dado por sua avó que nunca conheceu. Morreu antes mesmo dela ter nascido. Gostava de seu nome. Não sabia o porque, mas parecia que combinava com sua personalidade passiva, mas decidida.
Os pensamentos iam e vinham, num rebuliço sem tréguas, quase lhe causando náuseas, pois não havia comido nada aquele dia.
Foi um dia que ela não conseguia rotular. Era como se ela nunca esperasse que a fosse acontecer. Seu pai, sua mãe, a tia que ela adorava desde pequena. Porque todos, porque eles, ela se perguntava.
A noite caia à dentro. Judy já não queria mais pensar.
Estava tentando esvaziar a sua mente, mesmo que fosse tão difícil quanto imaginado. Queria que suas atitudes fossem tomadas por impulsos, coisa que ela sempre achou sem nexo, pois adorava ter o controle e a sensatez de sua ações. Mas ali já não importava mais. Nada lhe importava mais.
Era só ela, a noite que adentrava perante seu olhar concentrado no nada, e o barulho das ondas desaparecendo por dentre as pedras lá embaixo.
De repente, num estouro repentino, tomou-se de pé. Olhando fixamente acima da linha do peito, ela deu um passo à frente, tentando entender porque o fez.
Não conseguia fixar ainda um pensamento. Era tudo turvo e confuso. Ela nunca tinha se sentido assim antes, nem mesmo quando seus pais se separaram quando tinha 9 anos. Ela ainda se lembrava das noites, em que sua mãe se trancava no quarto e podia escutar os lamentos e choros do amor abalado e perdido. Ela não conseguia entender na época, nunca tinha passado pelas desilusões e alegrias de se amar. Dos atos sem pensar e das noites que se sentiria como a sua mãe, em outrora.
Ali agora, à 3 passos da beirada de um desfiladeiro, à 25Km do centro da cidade, onde morava; Judy dava mais um passo à frente. Conseguiu enfim fixar um pensamento. Se sentiu horrorisada por ter a capacidade de ter pensado nisso. Sempre foi de pensar muito antes de fazer qualquer coisa. Um erro, dizia o seu pai -- que era um homem moderadamente liberal e gostava de passar as noite em conjunto de amigos, bebendo e se divertindo, aproveitando a vida como ele mesmo diria.
E mais um passo à frente lhe leva para quase um caminho sem volta. Não estava mais pensando coisa com coisa. Relembrava de momentos importantes da sua vida. Cenas de seus pais, cenas isoladas, festas com as suas melhores amigas, situações difíceis que passou e não contou para ninguém. E mais um passo foi dado.
Neste momento, ela já sabia o que fazer. Já não tinha mais volta. Enfim percebeu o que estava fazendo. Estava desistindo. Não apenas dela, mas de tudo, todos. Dos amigos, das coisas, dos sentimentos, das lembranças, até mesmo das coisas que virão, pois o seu seguinte passo não à deixou pensar.
Pois durou apenas 4 segundos, até desaparecer dentro da escuridão e assim completar o seu ciclo. O seu ciclo de 24 anos de inexistência.
Judy, 24 anos de idade. Moradora de uma pacata cidade. Era portadora de uma doença chamada Amor.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Chance

- Puxa vida! E eu achando que mudando com os dedos os ponteiros do relógio, eu poderia voltar naquele momento.
- E quem disse que você não pode?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

The breath

Dia de chuva. Dia nublado, neve, ar cinza sabor Europa. Trilhos de trem. Uma conversa.
- O senhor poderia me informar se mais alguém passa por estes trilhos desertos todos os dias?
Um olhar desconfiado, mas polido.
- Que eu saiba, não senhor. É um caminho solitário, sempre ando por aqui todas as manhãs e nunca vi ninguém por estas redondezas.
Alguns segundos em silêncio. E parecendo não se importar com o que o homem diz.
- Qual seu nome?
- Todos me chamam de Unsterblich. Fui para duas guerras mundiais e ainda estou aqui, por isso esse apelido.
- É que eu acho que estou perdido. É a minha primeira vez aqui na Alemanha depois dos acontecimentos da decada de quarenta. Muita coisa mudou desde lá - diz com olhos negros fixos.
- As bombas não caem mais do céu, a fúria nos olhos ainda existe, mas são poucos. Já que aqui ficavam concentrados os exercitos da Alemanha em 1942, poucos querem passar por estas bandas.O medo pôs mais descência em seus caráters. É uma sorte tremenda ainda estarmos vivos. Eu estar vivo.
- Entendo! - disse.
Retribuindo o olhar, diz.
- O senhor está indo para onde?. Por que todas essas perguntas? O que te atraz aqui. É alguém do novo governo? Do estrangeiro?.
- Algo assim - balbuciou. - Na realidade, as perguntas foram apenas para passar o tempo. Seu nome é que era a rasão de eu estar aqui.
Num breve momento, o brilho nos olhos desaparece, deixando um rastro de um branco opaco. E neste caminho, por entre os trilhos de antigos trens nazistas, a única coisa que sobrou foram as pegadas na neve de um sujeito de poucas palavras, misterioso. Uma tal de morte.