quinta-feira, 5 de abril de 2012

A creepy heat beat


As correntes e algemas se desprenderam imediatamente após a chave circundar todo o seu caminho dentro da fechadura. A sensaçao de liberdade veio como um mar caindo sob sua cabeça, desesperando-o a buscar qualquer milímetro cúbico de ar para respirar. Depois de tanto tempo, nem se lembrava direito de como era estar livre e sentir o ar fresco. Por anos viajou milhares de quilômetros dentro de sua mente, andando por vales selvagens e banhando-se em cachoeiras cristalinas, que de tão geladas arrepiavam os pêlos do braço, mesmo que na realidade fossem apenas pingos d'agua do encanamento acima, furado.
Meses depois de ter recebido sua liberdade, ainda não sabia como aproveitar todo o tempo livre que dispunha. Andava para lá e para cá aguniado, acostumado a sempre racionar todas as suas tarefas, pois o tempo nunca o dava oportunidade de realizar todas elas. Olhava-se no espelho observando como o tempo havia passado mas ainda se sentia jovem, com toda a força capaz de levá-lo onde quisesse, pelo tempo que quisesse.
As vezes escrevia longos textos sobre seus dias enclausurados. Em outros, ficava parado olhando uma paisagem por horas, sem se mover, querendo não perder nenhum detalhe como se um segundo depois tudo pudesse estar diferente.
Não sabia mais quanto tempo tinha de vida porque em dado momento parou de contar os aniversários. Com isso, vivia agora cada segundo com o máximo de vontade, de encantamento por mínimos detalhes que antes passavam batido como para a maioria das pessoas.
Agora lhe parece que, durante todo esse tempo preso, foi sim a liberdade que esteve sempre com ele, possibilitando agora ir muito mais além do que se tivesse simplesmente ficado por aí, vadiando, com a alma presa em um pote de vidro em cima da estante, esquecida.

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